Hoje mais cedo, li rapidamente alguma postagem de facebook que dizia algo parecido com "escrever é como desengasgar a alma". Não lembro mais da frase exata e acabo de procurar um tanto por quem postou, mas sem sucesso. Acontece é que mexeu com minha alma pro resto do dia, que de tão perturbada por tantas e tantas palavras acumuladas tentando sair duma vez, ela se fez por esquecer não só da frase, como do ponto de partida pra seu desengasgo... De todo modo, aqui estou eu fazendo o que ela cutucou pra fazer!
Mas, para começo de desengasgar qualquer, não posso escrever no NoutrOras sem olhar pra trás, sem olhar pros soluços doutros tempos por aqui. Na verdade não é a primeira vez que os leio e releio durante esse intervalo em que fiquei sem postar. Tenho um apego por esta página como nunca tive por folhas e cadernos que já rabisquei e sem dó rasguei até então. Acho que porque este foi de fato o espaço no qual eu cheguei mais perto de falar de mim para mim mesma com o diferencial de saber que alguém do outro lado poderia ler tranquilamente minha subjetividade. Em folhas de papel a alma as vezes desengasga voraz e sente até medo de ser descoberta. Ainda é assim! Durante esse tempo parei, voltei e parei novamente de escrever no papel. A escrita foi e é uma prática importante pra mim. O NoutrOras mesmo surgiu a mais de 3 anos atrás de um estalo de "vou criar um blog sem compromisso, vai que ajuda!" e está aqui até hoje me fazendo crescer quando o releio, lembro dos momentos, sinto vergonha, tenho saudades... Mesmo palavras que a alma soltou por aqui a tanto tempo, que nem fazem mais sentido, continuam em movimento no presente se reconstruindo ao que sou agora que as vou lendo novamente. Engraçado, serão sempre como soluços para o hoje, com significados diferentes/iguais. E um soluço parece com isto mesmo... A ciência jamais deu conta de explicar ao certo, por que o que ele parece mais ser é um ensaio para algo sobrenatural engasgado querendo saltar!
Enfim, são por muitas razões e sentimentos que não me desapego daqui, mesmo deixando os novos pensamentos escritos por longe (e até mesmo por lugar nenhum). E é por esse "não-desapegar" que volto, timidamente, a desengasgar agora... Em três anos houveram muitas mudanças e talvez os sonhos sejam totalmente diferentes. Tenho até a suspeita que eu dei uma pausa no sonhadora. Na verdade, estive andando por caminhos bem intensos que eu não sonhava em percorrer a três anos atrás, mas que passaram a ser por si só construção de um sonho. Foram escolhas que mudaram e/ou mudarão meus rumos, e eu até costumo dizer que foram essas escolhas que me escolheram. Incrível é perceber como escolhas que parecem tão pequenas nos abrem bifurcações tão distintas, que bifurcam pra caminhos novos, onde outra escolha vai abrindo nova bifurcaçãozinha e vai, vai e vem vindo. Porém, meu último um/dois meses tem sido uma pausa entre bifurcações destas. É o que chamamos, na militância, de crise! Bom, acho que estou de fato "crisada" e preciso aproveitar disso pra me entender nessas grandes e pequenas bifurcações da vida que me trouxeram até esse momento. Sei que não é ruim olhar pra si, o auto-conhecimento é necessário pra estar mais forte pra seguir adiante, mas tenho fugido disso desde antes de "instaurar a crise" comigo e talvez ela só tenha acontecido por falta disto mesmo. Penso que por medo, outras vezes acho que foi por conta da ligeireza, ou que talvez foi por se fazer necessário abdicar-se de mim por um tempo pra me sentir mais nos outros.
Por demais agora, sinto que preciso me entender meio a esta pausa. É muito doloroso e contraditório abrir mão por algum tempo de seguir uma importante construção na qual mais uma bifurcação poderia estar me colocando. Mas é melhor que seja assim, pois sei que precisarei aprender a dar conta de bifurcações maiores e mais profundas lá na frente! Já começava a ficar difícil deixar de lado a subjetividade, que sempre foi algo muito forte em mim e que lutei aos pouquinhos para vencer. Amadureci e aprendi muito. Não me arrependo, mesmo tendo me consumido ao precisar, por vezes, de rompimentos abruptos para agir de forma mais racional. Logo eu, Peixes com ascendente em Peixes, tendo de largar tão rapidamente o sentimentalismo para agir com firmeza. Então, cheguei ao ponto em que o que parecia rígido começou a balançar, primeiro por dentro, depois eu já não estava conseguindo articular nada de forma racional quando o sentimento estava envolvido. Era a subjetividade retornando e dizendo pra mim que era hora de parar pra digerir. Ou parar para desengasgar com mais alma mesmo.