quarta-feira, 23 de outubro de 2013

IN-FÂNCIA

Aproveitado o mês da criança e a deixa das pessoas colocando no perfil suas fotos infantis, vou falar aqui de uma angustia... 

Quando criança, me espantava muito a ideia de crescer, ver sangue todo mês, pagar contas, trabalhar, vestir roupas "de gente grande" e sair de salto e maquiagem. Me espantava até a ideia de "ter que" beijar na boca. Enfim, todo esse padrão social da vida adulta me causava medo e estranheza de tudo que tá na linha que nos separa da infância. (aquelas que foram criança junto comigo sabem do que to falando.) 

Não tem como eu falar disso aqui sem destacar questões de gênero e a influencia patriarcalista sustentada pelo Capital. É torturante para uma criança, que está a conhecer a vida, ter que saber como é que se tem que ser quando crescer! E crescer mulher é muito mais cruel, quando desde que você nasce tem um padrão de beleza e uma função social empurrado em você! O cor-de-rosa tem um peso grande, o azul também tem. Precisamos provar que somos femininas e meigas ou que somos grandes machões desde criança. Eu nunca entendia o porque a pró da escola não me deixava sentar na cadeirinha azul... Os coleguinhas já chamavam de "mulherzinha" (como sinônimo de inferioridade) aquele outro colega que chegava atrasado e tinha que sentar numa cadeira rosa que sobrou. 

Bom, esse é só o começo. Depois é plantada na gente a sementinha do "tem que se cuidar e ser uma mulher bonita" (e mais bonita que a outra), salto, cabelo, maquiagem, marido, precisa aprender a cozinhar bem também! Claro, ninguém nos mostra esse pacote pronto! Toda criança vai aprendendo observando o que o adulto faz e reproduz. Quando criança, aquilo que os adultos faziam me causava esse medo e eu fiz questão de fingir que não era comigo e jogar muito baleado nas ruas, correr muito, me sujar muito e inventar minhas próprias brincadeiras da minha cabeça (essa parte eu fiz até tarde). 

Ainda me dói a ideia do mundo adulto e eu me considero ainda em transição. Não sei bem o que é ser nova demais pra umas coisas e velha pra outras... Acho isso um paradoxo chato de se pensar. Mas ainda não me rendi a aceitar a "adultice" de uma vez e acho fantástico os momentos que posso me entregar pra ser mais criança. Claro que a gente amadurece, descobre novos sabores e desenvolve nosvos habitos naturalmente. Mas nem sempre isso precisa acontecer com um padrão ou com uma data certa pra começar! 

Ultimamente, ao observar a infância de hoje, há algo que me dói mais do que tudo aquilo de perverso que descubro sobre o patriarcado em meus estudos de gênero e feminismo a cada dia... É a atual não-infância (e que querendo ou não faz parte de tudo isso que descubro nos estudos). To falando dos tablets, computadores, salões de beleza precoce, salto alto cedo demais, namoros que não são mais aquelas brincadeirinhas saudáveis de cartinha pros coleguinhas de classe. Me dá muita angustia ver a ausência de criança numa criança... A ânsia de dizer logo que é adolescente, que até inventaram a modalidade "pré-adolescente"! Não me diga que é bonitinho dizer "como ela é mocinha e comportada" pra uma menina de 8 anos. Prefiro e acho mais bonito quando ela está exercendo sua criatividade e descoberta, livre e pulando! 

"Evolução do amadurecimento" é o caralho! A verdade é que o Capital sabe nos ensinar muito bem e criança aprende rápido. Cada vez mais cedo estamos entrando nas garras dele! 

 (Post de Facebook antes do dia das crianças. - repostando pra não perder o raciocínio)

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