sábado, 8 de fevereiro de 2014

"Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça, para o total. Todos os sucedidos acontecendo, o sentir forte da gente - o que produz os ventos. Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura." 

Guimarães Rosa



quarta-feira, 23 de outubro de 2013

pedaço de pensamento de tempo do dia

    "Faz uns quatro bilhões e quinhentos milhões de anos, anos mais, anos menos, uma estrela anã cuspiu um planeta, que atualmente responde ao nome de Terra. 
    Faz uns quatro bilhões e duzentos milhões de anos, a primeira célula bebeu o caldo do mar, e gostou e se duplicou para ter alguém a quem oferecer. 
    Faz uns quatro milhões e um tanto de anos a mulher e o homem, quase macacos ainda, ergueram-se sobre suas patas e se abraçaram, e pela primeira vez sentira a alegria e o pânico de se verem, cara a cara, enquanto faziam aquilo. 
    Faz uns quatrocentos e cinquenta mil anos, a mulher e o homem esfregaram duas pedras e acenderam o primeiro fogo, que ajudou a lutar contra o medo e contra o frio. 
    Faz uns trezentos mil anos, a mulher e o homem se disseram as primeiras palavras, e acharam que poderiam se entender. 
    E assim estamos até hoje: querendo ser dois, mortos de medo, mortos de frio, buscando palavras."

Mapa do Tempo - Eduardo Galeano 
Do livro Bocas do Tempo


IN-FÂNCIA

Aproveitado o mês da criança e a deixa das pessoas colocando no perfil suas fotos infantis, vou falar aqui de uma angustia... 

Quando criança, me espantava muito a ideia de crescer, ver sangue todo mês, pagar contas, trabalhar, vestir roupas "de gente grande" e sair de salto e maquiagem. Me espantava até a ideia de "ter que" beijar na boca. Enfim, todo esse padrão social da vida adulta me causava medo e estranheza de tudo que tá na linha que nos separa da infância. (aquelas que foram criança junto comigo sabem do que to falando.) 

Não tem como eu falar disso aqui sem destacar questões de gênero e a influencia patriarcalista sustentada pelo Capital. É torturante para uma criança, que está a conhecer a vida, ter que saber como é que se tem que ser quando crescer! E crescer mulher é muito mais cruel, quando desde que você nasce tem um padrão de beleza e uma função social empurrado em você! O cor-de-rosa tem um peso grande, o azul também tem. Precisamos provar que somos femininas e meigas ou que somos grandes machões desde criança. Eu nunca entendia o porque a pró da escola não me deixava sentar na cadeirinha azul... Os coleguinhas já chamavam de "mulherzinha" (como sinônimo de inferioridade) aquele outro colega que chegava atrasado e tinha que sentar numa cadeira rosa que sobrou. 

Bom, esse é só o começo. Depois é plantada na gente a sementinha do "tem que se cuidar e ser uma mulher bonita" (e mais bonita que a outra), salto, cabelo, maquiagem, marido, precisa aprender a cozinhar bem também! Claro, ninguém nos mostra esse pacote pronto! Toda criança vai aprendendo observando o que o adulto faz e reproduz. Quando criança, aquilo que os adultos faziam me causava esse medo e eu fiz questão de fingir que não era comigo e jogar muito baleado nas ruas, correr muito, me sujar muito e inventar minhas próprias brincadeiras da minha cabeça (essa parte eu fiz até tarde). 

Ainda me dói a ideia do mundo adulto e eu me considero ainda em transição. Não sei bem o que é ser nova demais pra umas coisas e velha pra outras... Acho isso um paradoxo chato de se pensar. Mas ainda não me rendi a aceitar a "adultice" de uma vez e acho fantástico os momentos que posso me entregar pra ser mais criança. Claro que a gente amadurece, descobre novos sabores e desenvolve nosvos habitos naturalmente. Mas nem sempre isso precisa acontecer com um padrão ou com uma data certa pra começar! 

Ultimamente, ao observar a infância de hoje, há algo que me dói mais do que tudo aquilo de perverso que descubro sobre o patriarcado em meus estudos de gênero e feminismo a cada dia... É a atual não-infância (e que querendo ou não faz parte de tudo isso que descubro nos estudos). To falando dos tablets, computadores, salões de beleza precoce, salto alto cedo demais, namoros que não são mais aquelas brincadeirinhas saudáveis de cartinha pros coleguinhas de classe. Me dá muita angustia ver a ausência de criança numa criança... A ânsia de dizer logo que é adolescente, que até inventaram a modalidade "pré-adolescente"! Não me diga que é bonitinho dizer "como ela é mocinha e comportada" pra uma menina de 8 anos. Prefiro e acho mais bonito quando ela está exercendo sua criatividade e descoberta, livre e pulando! 

"Evolução do amadurecimento" é o caralho! A verdade é que o Capital sabe nos ensinar muito bem e criança aprende rápido. Cada vez mais cedo estamos entrando nas garras dele! 

 (Post de Facebook antes do dia das crianças. - repostando pra não perder o raciocínio)

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

novo e pequeno soluçar d'alma

Hoje mais cedo, li rapidamente alguma postagem de facebook que dizia algo parecido com "escrever é como desengasgar a alma". Não lembro mais da frase exata e acabo de procurar um tanto por quem postou, mas sem sucesso. Acontece é que mexeu com minha alma pro resto do dia, que de tão perturbada por tantas e tantas palavras acumuladas tentando sair duma vez, ela se fez por esquecer não só da frase, como do ponto de partida pra seu desengasgo... De todo modo, aqui estou eu fazendo o que ela cutucou pra fazer!
Mas, para começo de desengasgar qualquer, não posso escrever no NoutrOras sem olhar pra trás, sem olhar pros soluços doutros tempos por aqui. Na verdade não é a primeira vez que os leio e releio durante esse intervalo em que fiquei sem postar. Tenho um apego por esta página como nunca tive por folhas e cadernos que já rabisquei e sem dó rasguei até então. Acho que porque este foi de fato o espaço no qual eu cheguei mais perto de falar de mim para mim mesma com o diferencial de saber que alguém do outro lado poderia ler tranquilamente minha subjetividade. Em folhas de papel a alma as vezes desengasga voraz e sente até medo de ser descoberta. Ainda é assim! Durante esse tempo parei, voltei e parei novamente de escrever no papel. A escrita foi e é uma prática importante pra mim. O NoutrOras mesmo surgiu a mais de 3 anos atrás de um estalo de "vou criar um blog sem compromisso, vai que ajuda!" e está aqui até hoje me fazendo crescer quando o releio, lembro dos momentos, sinto vergonha, tenho saudades... Mesmo palavras que a alma soltou por aqui a tanto tempo, que nem fazem mais sentido, continuam em movimento no presente se reconstruindo ao que sou agora que as vou lendo novamente. Engraçado, serão sempre como soluços para o hoje, com significados diferentes/iguais.  E um soluço parece com isto mesmo... A ciência jamais deu conta de explicar ao certo, por que o que ele parece mais ser é um ensaio para algo sobrenatural engasgado querendo saltar!
Enfim, são por muitas razões e sentimentos que não me desapego daqui, mesmo deixando os novos pensamentos escritos por longe (e até mesmo por lugar nenhum). E é por esse "não-desapegar" que volto, timidamente, a desengasgar agora... Em três anos houveram muitas mudanças e talvez os sonhos sejam totalmente diferentes. Tenho até a suspeita que eu dei uma pausa no sonhadora. Na verdade, estive andando por caminhos bem intensos que eu não sonhava em percorrer a três anos atrás, mas que passaram a ser por si só construção de um sonho. Foram escolhas que mudaram e/ou mudarão meus rumos, e eu até costumo dizer que foram essas escolhas que me escolheram. Incrível é perceber como escolhas que parecem tão pequenas nos abrem bifurcações tão distintas, que bifurcam pra caminhos novos, onde outra escolha vai abrindo nova bifurcaçãozinha e vai, vai e vem vindo. Porém, meu último um/dois meses tem sido uma pausa entre bifurcações destas. É o que chamamos, na militância, de crise! Bom, acho que estou de fato "crisada" e preciso aproveitar disso pra me entender nessas grandes e pequenas bifurcações da vida que me trouxeram até esse momento. Sei que não é ruim olhar pra si, o auto-conhecimento é necessário pra estar mais forte pra seguir adiante, mas tenho fugido disso desde antes de "instaurar a crise" comigo e talvez ela só tenha acontecido por falta disto mesmo. Penso que por medo, outras vezes acho que foi por conta da ligeireza, ou que talvez foi por se fazer necessário abdicar-se de mim por um tempo pra me sentir mais nos outros.
Por demais agora, sinto que preciso me entender meio a esta pausa. É muito doloroso e contraditório abrir mão por algum tempo de seguir uma importante construção na qual mais uma bifurcação poderia estar me colocando. Mas é melhor que seja assim, pois sei que precisarei aprender a dar conta de bifurcações maiores e mais profundas lá na frente! Já começava a ficar difícil deixar de lado a subjetividade, que sempre foi algo muito forte em mim e que lutei aos pouquinhos para vencer. Amadureci e aprendi muito. Não me arrependo, mesmo tendo me consumido ao precisar, por vezes, de rompimentos abruptos para agir de forma mais racional. Logo eu, Peixes com ascendente em Peixes, tendo de largar tão rapidamente o sentimentalismo para agir com firmeza. Então, cheguei ao ponto em que o que parecia rígido começou a balançar, primeiro por dentro, depois eu já não estava conseguindo articular nada de forma racional quando o sentimento estava envolvido. Era a subjetividade retornando e dizendo pra mim que era hora de parar pra digerir. Ou parar para desengasgar com mais alma mesmo.

quarta-feira, 20 de março de 2013

continuidade

Tenho sentido saudades daqui. Voltei a escrever para mim, havia perdido um pouco o gosto. Mutante que sou. Mas nos últimos dias minhas mãos coçaram diversas vezes e minha cabeça treinava as palavras do que aqui dentro virou um turbilhão de sentimentos e pensamentos novos, reconfigurados, remexidos... Muito mudou, muito mudei. Alguns medos, porém, ainda continuam persistindo. E me lembro exatamente o porquê de ter começado a compartilhar meus pensamentos neste blog. Ainda é desafioso para mim desengasgar os sentimentos! Talvez eu ainda não tenha amadurecido muitas ideias de menina boba, que não deixei de ser e que nem quero. Mas os valores amadureceram, e muito, na caminhada que eu tenho trilhado. Me sinto cada vez mais plural, humanizada e responsável por cultivar meus princípios, os que despertei intensamente nos últimos tempos. Têm sido forte as minhas vivências... Principalmente nos últimos dias, os quais me encontro constantemente em reflexão profunda. Acredito que esse meu desafiar-se, muitas vezes a sós, ao mesmo tempo que me traz nostalgia acaba por me fortalecer. Tem sido duro, mas também é terno, e me desperto cada vez mais para um novo e para as mudanças. São as mudanças: destas sim eu nunca tive medo de encontrar! As mudanças de agora fazem parte de mim meio a um processo de construção e de também de desconstrução, as duas coisas juntas num modo contínuo de avanços. Ainda sou cheia de medos, contradições... Porém, muito porém, sinto-me em renovação a cada dia! Esta não tem sido nada fácil e nem preciso que seja... É para além de mim mesma.

(...)

Escrever, para mim, é ainda reconhecer-se e libertar-se.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Aula de Vôo

"O conhecimento caminha lento feito lagarta. Primeiro não sabe que sabe e voraz contenta-se com cotidiano orvalho deixado nas folhas vividas das manhãs. Depois pensa que sabe e se fecha em si mesmo: faz muralhas, cava Trincheiras, ergue barricadas. Defendendo o que pensa saber levanta certeza na forma de muro, orgulha-se de seu casulo. Até que maduro explode em vôos rindo do tempo que imagina saber ou guardava preso o que sabia. Voa alto sua ousadia reconhecendo o suor dos séculos no orvalho de cada dia. Mas o vôo mais belo descobre um dia não ser eterno. É tempo de acasalar: voltar à terra com seus ovos à espera de novas e prosaicas lagartas. O conhecimento é assim: ri de si mesmo E de suas certezas. É meta de forma metamorfose movimento fluir do tempo que tanto cria como arrasa a nos mostrar que para o vôo é preciso tanto o casulo como a asa"   (Mauro Iasi)

segunda-feira, 4 de junho de 2012

perda de tempo

Tanto que tento não cair no tempo, mas quando dou por conta já to a questioná-lo outra vez.  Como corre! Como divaga! E como faz os dois ao mesmo tempo, o tempo. 
Esse tempo que já me afastou afetos e que já me afligiu quando eu implorava pressa, já me fez crescer também. É o mesmo tempo que não muda um bocado de coisas e faz milagres com outras. Às vezes, quietinho, vai passando que nem noto, e com ele leva pessoas, ares, lugares... Leva embora ideias! E de tão calado me assusta quando reparo nas minhas duas décadas já vividas. PARADOXO! Já passou tempo demais! O futuro vem chegando e me agarrando com os tentáculos da consciência, da responsabilidade e da crueldade. É, quanto mais o tempo passa, mais conheço o lado cruel que o amadurecimento pode trazer. Não só o amadurecer de idade, mas o do próprio conhecer e entender da vida. 
O tempo decepciona, o tempo nos transforma... E ele até melhora. Essa coisa de tempo endoida a cabeça da gente! Será mesmo que tudo é um tempo só? E será que essa medida, que se dá em nossa lida, números, exatidões e coisificações, é sempre a mesma pra toda vida? Cara, qual é o tamanho duma vida?! Aaii! Sempre me pego endoidecida, perdendo tempo com o tempo. Mas é esse mano velho quem me persegue. 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

certezas

Tá ficando cada vez mais caro viver, ficando caro demais respirar em paz. Onde boa parcela, pra não dizer quase tudo, do que nos cerca causa desgosto e insatisfação, aparecem ainda coisas tão pequenas que conseguem arrancar-me sorrisos. Chego a ficar surpresa por ver como a simplicidade pode fazer o mais complexo de dentro da gente mudar. E ainda mais quando me vejo em pé pra levar mais sorrisos, mais mudanças e mais fé! É nesse momento que me sinto grande, completa por todas as pequeninezas juntas que me dão razão pra lutar pelas mudanças nas quais acredito. E isso, maldade nenhuma há de conseguir arrancar! Quando tudo parecer insuportável mais um vez, lá vou eu atrás de outros e outros sorrisos, por mais singelos que sejam, pra me fazer forte. 

segunda-feira, 7 de maio de 2012



"
Mas também, cair não prejudica demais. 
A gente levanta, a gente sobe, a gente volta.
O correr da vida embrulha tudo
A vida é assim: 
esquenta e esfria, 
aperta e daí afrouxa, 
sossega e depois desinquieta. 
O que ela quer da gente é coragem."

(Guimarães Rosa)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Do nada sei.

Eu que tenho tanto pra falar... Das angustias desse mundo. Dos amores dessa vida. Me encontro afogando num vocabulário que se esvai, que tende a se esvair mais e mais.
É que pensadas mil coisas, entre palavras sem significado e significados que não encontram palavras, parece que cada vez nesse mais eu sei menos. Menos de dor e menos de amor. E não adianta. Por mais que eu gaste minhas horas em tanto pensamento, achar a cura pra tudo que se passa nele é, sei lá, um desconhecido.
Dentro do muito, ainda percebo que é tão nada... A gente nada, nada, nada e continua nada. Um mundo de muito vazio. É pouco pra se ter respostas de tudo... Não vou ter respostas.

sábado, 17 de março de 2012

Bom dia pra quem é de bom dia, e também pra quem não é.

  Que bom ficar de bobeira sem muito com o que se preocupar. Que bom estar atolada até a ponta do cabelo. Sim, é muito bom não ter e ter o que fazer!
  Nada como um domingo pra acordar meio-dia, almoçar no café da manhã e depois passar o resto do dia vendo filmes bobos ou as besteiras da TV. E comendo porcarias! E aqueles dias que a gente acorda sem vontade da rotina e joga tudo pro ar? Deixa os horários pra lá, falta nas obrigações, dorme e depois inventa uma dorzinha de cabeça só porque precisava de uma fuga dessas pra si. Ai, esses dias são dos melhores! Penso, tipo: “que se dane, eu mereço respirar!” Ah, sim... Têm também os feriados prolongados, as datas ‘sagradas’ do calendário, que a gente corre prum canto diferente ou reúne a família e amigos pra simplesmente comer junto ou sei lá o quê. São bons dias também! E não podemos esquecer o tédio. É legal se irritar consigo por não ter o que fazer por muito tempo, daí então ficar catando migalhas do que pareça utilizável. Se deixar consumir um dia inteiro na frente do computador, vendo noticia alheia e vida alheia também. Dormir tarde vez ou outra na internet conversando com gentes legais, e até dormir tarde várias vezes seguidas conversando com chatos.
  E pra balancear (ou contrabalancear) vamos pensar na maravilha que é, depois de um dia cheio, colocar a cabeça pesada no travesseiro e se sentir útil por ter conseguido fazer tudo e mais um pouco. É muito bom ter o que fazer, ter de organizar o tempo pra caber todas as obrigações de um dia. É incrível como a gente consegue se desdobrar e fazer o dia durar mais que 24 horas de ocupação. Conta pra pagar, problema pra se esquentar, trabalho a cumprir e mais as durezas da vida que a gente sempre tem de enfrentar. E mesmo diante de trocentas coisas, ainda dá pra ler um livro bacana de pouquinho em pouquinho e perder uns minutos fazendo resumidamente o que se faz quando não se faz nada. Não lembro quem foi que disse: “Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!”, isso faz é muito sentido (e dá pra adaptar às diferentes realidades).
  Sabe, bom mesmo é tá na vida. É não desistir da vida mesmo com tanto defeito no viver. Eu não sei como poderia ser melhor pra mim, nem como poderia estar pior... Mas eu to viva, caramba! Vivo pensando no que me dói e também no que me faz sorrir. Vivo os dias maus, os dias bons. E tenho vivido de repúdios e descontentamentos, mas eu vivo de amor também! Eu vivo de dor, de cansaço, de tristeza... Vivo da esperança. Vivo com vontade de lutar, de lutar pelo viver. Mesmo que não te faça sentido esse viver, camarada, é bom que esteja na vida! Ainda que sem rumo, que sem norte, é bom estar nisso aqui e saber que se pode viver também de mudanças. 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

"As vezes eu só quero descansar, desacreditar no espelho, ver o sol se pôr vermelho..."

De vez em quando, eu sinto vontade de nada precisar rotular. Só respirar. A rotina, as ideias, as vontades; tudo se mistura e no final das contas falta espaço. É que ocupo meu tempo esquentando a mente e depois não me resta mais nada dele pra pôr as coisas em ordem, ou até pra desorganizar mesmo. Entre o que faço e o nome do que quero fazer existe um abismo chato. Me gasto na tentativa de compreender e de encontrar esse nome, e assim, na mesma falta do tempo, vem o vazio. 
De vez em quando, preciso desfazer o nó. De alguma forma entender, nomear, praticar. Caio num imbróglio. Falta ar e volto àquela vontade de parar o mundo, de desligar o botão do raciocínio. Porque que nós, pessoas, buscamos tanto entender de tudo e arranjar um nome presses tudos? Porque se sustentar nos rótulos e querer nos enquadrar? E porque tanto dessa teimosia aqui? 
De vez em quando, um sorriso no rosto cura nossa alma. É bom se acomodar num cantinho, longe das placas, das regras invisíveis e das visíveis também. De vez em quando... De vez em quando deve ser só questão de tempo pra parar de pensar em tanta coisa ao mesmo tempo. O tempo até pode dar conta. O pensar é que as vezes não sabe se encaixar nele.