quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Entre a espera e o recibo.

̶ Quer um palpite?
̶ Mais que isso, preciso de um agora.
̶ Você não devia querer apressar tanto o tempo.
̶ Eu até sei...
̶ O tempo é sábio, menina. As coisas acontecem em sua hora.
̶ Mas, às vezes, você não acha que pensar assim pode ser um pouco de comodismo?
̶ Sim. Só que existe diferença entre esperar e acomodar. O comodismo mora junto com o medo, a desesperança e o atar de braços. Quando você espera por algo que você busca e se move para isso, o tempo é justo.
̶ Então, meu desejo de ir além e alcançar, de uma forma ou de outra, faz parte dessa espera. Certo?
̶ Não exatamente.
̶ Mas se eu não estou acomodada, quer dizer que é uma espera benéfica sim!
̶ Não, você ainda deve se acomodar...
̶ Me acomodar? Que contraditório você dizer isso!
̶ Você busca, mas tem pressa demais. Olha, não queira tudo pra já, pois atropelar o tempo pode tirar as coisas dos lugares que elas devem estar. Se você realmente necessita de um palpite, digo que se acomode com esta ideia! Existe o feito, o tempo e a razão do tempo.
̶ (...)

Hoje conversei comigo.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Navalhas goela abaixo.

Agora, to sentindo aquela vontade de gritar muito, gritar pro mundo um vocabulário engasgado aqui. São palavras afiadas como navalhas que me fazem lentos cortes, os mais dolorosos, na garganta; no peito. É que, por tanto quererem sair, elas utilizam o mais árduo recurso que podem. Assim como nós, clamam liberdade todo tempo! Não dou. Não posso simplesmente liberta-las assim de uma só vez, elas podem ferir intensamente alvo por alvo. Eu sangraria junto... Só não sei dizer se ia sangrar mais que agora.

Se eu grito, as palavras cortam de vez. Se eu engulo, elas podem me matar aos poucos.

Espero que desistam da fuga.

[ Black Swan - Thom Yorke ]

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

À Flor da Pele


"O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mentir e me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita..."

[ Chico Buarque - O Que Será (À Flor da Pele) ]

Tenho vivido um 'O que será' constante.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

NÓStalgia

  Me pergunto: realmente os tenho? Existe um laço entre nós, nó frouxamente firme. É que o que une uma pessoa a outra é um amontoado de nós, uns por cima dos outros, feitos instante a instante, amarrados. Nós fracos e fortes.
  Então, essas amarrações, essas que fiz entre tantos nós, são minhas? Não, elas são nossas. Se o outro lado da corda resolve ceder, que nó se sustenta? O nó precisa de duas pontas unidas. Eu não possuo os nós sem que nós queiramos, juntos, possui-los. 
  Por tantas vezes vejo minha corda soltar, o nó se desfazer... Eu vou ficando sozinha, sozinha, sozinha... Olho pras marcas da minha corda, tantos nós já houveram nela. E até que não faz mal, já quis me soltar por tantas vezes também.
  Nós são realmente frágeis, eu não preciso tê-los sozinha. O que eu entendo por ser meu é apenas essa nostalgia de nós, da gente. Se nós não formos apenas os nós da nostalgia, vamos amarrar nossas cordas tantas outras vezes ainda. Soltá-las, amarrá-las, afrouxá-las, apertá-las.
  As melhores cordas resistem por uma vida! Se formos melhores para nós, teremos os nós refeitos mesmo que o tempo corte essas nossas cordas. Lembra? O nó é nosso, se quisermos tê-lo juntos!


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Em meu vácuo recheado.

Não, não é por mal que me perco em mim. Você também deve se perder... E se perde porque faço pra tanto. Admito. É que acho que não me sentiria confortável se você me achasse mais que eu acho a mim. Entende?


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Nossas ideias não correspondem aos fatos.

"Podemos maquiar algumas respostas ou podemos silenciar sobre o que não queremos que venha à tona. Inútil. A soma dos nossos dias assinará este inventário. Fará um levantamento honesto. Cazuza já nos cutucava: suas idéias correspondem aos fatos? De novo: o que a gente diz é apenas o que a gente diz. Lá no finalzinho, a vida que construímos é que se revelará o mais eficiente detector de nossas mentiras."

(Martha Medeiros)


Ainda é cedo demais pra saber quase de tudo.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Carece o respeito.

O ser humano vive trocando centenas de motivos para odiar um ao outro e, sim, cada um tem defeito de sobra para isso. Porém, basta apenas uma razão para amar o outro defeituoso, mesmo que esta seja desconhecida. Numa balança, pesa a quantidade ou o valor? Resta saber se os erros são ou não suficientes pra deixar cair aquele único sentimento bom. Somos tão errantes que precisamos do erro dos outros pra sentir o amor também. Então, gostar desse outro ser requer respeito ao seu recheio ruim acima de outras conclusões, porque o amor também está lá, ele é sozinho, mas pesa toneladas.

"Dá-me luz, ó Deus do tempo"



"Por onde vou guiar
O olhar que não enxerga mais
Dá-me luz, ó Deus do tempo
Dá-me luz, ó Deus do tempo
Nesse momento menor
Pr'eu saber seu redor
A gente quer ver
Horizonte distante
A gente quer ver
Horizonte distante
Aprumar
Através eu vi
Só o amor é luz
E há de estar daqui
Até alto e amanhã
Quem fica com o tempo
Eu faço dele meu
E não me falta o passo, coração
E não me falta o passo, coração
Avante
A gente quer ver
Horizonte distante
A gente quer ver
Horizonte distante
Aprumar"

[ Horizonte Distante - Marcelo Camelo (Los Hermanos) ]


"Porque há o direito ao grito,
então eu grito."
[Clarice Lispector]