segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Aula de Vôo

"O conhecimento caminha lento feito lagarta. Primeiro não sabe que sabe e voraz contenta-se com cotidiano orvalho deixado nas folhas vividas das manhãs. Depois pensa que sabe e se fecha em si mesmo: faz muralhas, cava Trincheiras, ergue barricadas. Defendendo o que pensa saber levanta certeza na forma de muro, orgulha-se de seu casulo. Até que maduro explode em vôos rindo do tempo que imagina saber ou guardava preso o que sabia. Voa alto sua ousadia reconhecendo o suor dos séculos no orvalho de cada dia. Mas o vôo mais belo descobre um dia não ser eterno. É tempo de acasalar: voltar à terra com seus ovos à espera de novas e prosaicas lagartas. O conhecimento é assim: ri de si mesmo E de suas certezas. É meta de forma metamorfose movimento fluir do tempo que tanto cria como arrasa a nos mostrar que para o vôo é preciso tanto o casulo como a asa"   (Mauro Iasi)

segunda-feira, 4 de junho de 2012

perda de tempo

Tanto que tento não cair no tempo, mas quando dou por conta já to a questioná-lo outra vez.  Como corre! Como divaga! E como faz os dois ao mesmo tempo, o tempo. 
Esse tempo que já me afastou afetos e que já me afligiu quando eu implorava pressa, já me fez crescer também. É o mesmo tempo que não muda um bocado de coisas e faz milagres com outras. Às vezes, quietinho, vai passando que nem noto, e com ele leva pessoas, ares, lugares... Leva embora ideias! E de tão calado me assusta quando reparo nas minhas duas décadas já vividas. PARADOXO! Já passou tempo demais! O futuro vem chegando e me agarrando com os tentáculos da consciência, da responsabilidade e da crueldade. É, quanto mais o tempo passa, mais conheço o lado cruel que o amadurecimento pode trazer. Não só o amadurecer de idade, mas o do próprio conhecer e entender da vida. 
O tempo decepciona, o tempo nos transforma... E ele até melhora. Essa coisa de tempo endoida a cabeça da gente! Será mesmo que tudo é um tempo só? E será que essa medida, que se dá em nossa lida, números, exatidões e coisificações, é sempre a mesma pra toda vida? Cara, qual é o tamanho duma vida?! Aaii! Sempre me pego endoidecida, perdendo tempo com o tempo. Mas é esse mano velho quem me persegue. 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

certezas

Tá ficando cada vez mais caro viver, ficando caro demais respirar em paz. Onde boa parcela, pra não dizer quase tudo, do que nos cerca causa desgosto e insatisfação, aparecem ainda coisas tão pequenas que conseguem arrancar-me sorrisos. Chego a ficar surpresa por ver como a simplicidade pode fazer o mais complexo de dentro da gente mudar. E ainda mais quando me vejo em pé pra levar mais sorrisos, mais mudanças e mais fé! É nesse momento que me sinto grande, completa por todas as pequeninezas juntas que me dão razão pra lutar pelas mudanças nas quais acredito. E isso, maldade nenhuma há de conseguir arrancar! Quando tudo parecer insuportável mais um vez, lá vou eu atrás de outros e outros sorrisos, por mais singelos que sejam, pra me fazer forte. 

segunda-feira, 7 de maio de 2012



"
Mas também, cair não prejudica demais. 
A gente levanta, a gente sobe, a gente volta.
O correr da vida embrulha tudo
A vida é assim: 
esquenta e esfria, 
aperta e daí afrouxa, 
sossega e depois desinquieta. 
O que ela quer da gente é coragem."

(Guimarães Rosa)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Do nada sei.

Eu que tenho tanto pra falar... Das angustias desse mundo. Dos amores dessa vida. Me encontro afogando num vocabulário que se esvai, que tende a se esvair mais e mais.
É que pensadas mil coisas, entre palavras sem significado e significados que não encontram palavras, parece que cada vez nesse mais eu sei menos. Menos de dor e menos de amor. E não adianta. Por mais que eu gaste minhas horas em tanto pensamento, achar a cura pra tudo que se passa nele é, sei lá, um desconhecido.
Dentro do muito, ainda percebo que é tão nada... A gente nada, nada, nada e continua nada. Um mundo de muito vazio. É pouco pra se ter respostas de tudo... Não vou ter respostas.

sábado, 17 de março de 2012

Bom dia pra quem é de bom dia, e também pra quem não é.

  Que bom ficar de bobeira sem muito com o que se preocupar. Que bom estar atolada até a ponta do cabelo. Sim, é muito bom não ter e ter o que fazer!
  Nada como um domingo pra acordar meio-dia, almoçar no café da manhã e depois passar o resto do dia vendo filmes bobos ou as besteiras da TV. E comendo porcarias! E aqueles dias que a gente acorda sem vontade da rotina e joga tudo pro ar? Deixa os horários pra lá, falta nas obrigações, dorme e depois inventa uma dorzinha de cabeça só porque precisava de uma fuga dessas pra si. Ai, esses dias são dos melhores! Penso, tipo: “que se dane, eu mereço respirar!” Ah, sim... Têm também os feriados prolongados, as datas ‘sagradas’ do calendário, que a gente corre prum canto diferente ou reúne a família e amigos pra simplesmente comer junto ou sei lá o quê. São bons dias também! E não podemos esquecer o tédio. É legal se irritar consigo por não ter o que fazer por muito tempo, daí então ficar catando migalhas do que pareça utilizável. Se deixar consumir um dia inteiro na frente do computador, vendo noticia alheia e vida alheia também. Dormir tarde vez ou outra na internet conversando com gentes legais, e até dormir tarde várias vezes seguidas conversando com chatos.
  E pra balancear (ou contrabalancear) vamos pensar na maravilha que é, depois de um dia cheio, colocar a cabeça pesada no travesseiro e se sentir útil por ter conseguido fazer tudo e mais um pouco. É muito bom ter o que fazer, ter de organizar o tempo pra caber todas as obrigações de um dia. É incrível como a gente consegue se desdobrar e fazer o dia durar mais que 24 horas de ocupação. Conta pra pagar, problema pra se esquentar, trabalho a cumprir e mais as durezas da vida que a gente sempre tem de enfrentar. E mesmo diante de trocentas coisas, ainda dá pra ler um livro bacana de pouquinho em pouquinho e perder uns minutos fazendo resumidamente o que se faz quando não se faz nada. Não lembro quem foi que disse: “Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!”, isso faz é muito sentido (e dá pra adaptar às diferentes realidades).
  Sabe, bom mesmo é tá na vida. É não desistir da vida mesmo com tanto defeito no viver. Eu não sei como poderia ser melhor pra mim, nem como poderia estar pior... Mas eu to viva, caramba! Vivo pensando no que me dói e também no que me faz sorrir. Vivo os dias maus, os dias bons. E tenho vivido de repúdios e descontentamentos, mas eu vivo de amor também! Eu vivo de dor, de cansaço, de tristeza... Vivo da esperança. Vivo com vontade de lutar, de lutar pelo viver. Mesmo que não te faça sentido esse viver, camarada, é bom que esteja na vida! Ainda que sem rumo, que sem norte, é bom estar nisso aqui e saber que se pode viver também de mudanças. 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

"As vezes eu só quero descansar, desacreditar no espelho, ver o sol se pôr vermelho..."

De vez em quando, eu sinto vontade de nada precisar rotular. Só respirar. A rotina, as ideias, as vontades; tudo se mistura e no final das contas falta espaço. É que ocupo meu tempo esquentando a mente e depois não me resta mais nada dele pra pôr as coisas em ordem, ou até pra desorganizar mesmo. Entre o que faço e o nome do que quero fazer existe um abismo chato. Me gasto na tentativa de compreender e de encontrar esse nome, e assim, na mesma falta do tempo, vem o vazio. 
De vez em quando, preciso desfazer o nó. De alguma forma entender, nomear, praticar. Caio num imbróglio. Falta ar e volto àquela vontade de parar o mundo, de desligar o botão do raciocínio. Porque que nós, pessoas, buscamos tanto entender de tudo e arranjar um nome presses tudos? Porque se sustentar nos rótulos e querer nos enquadrar? E porque tanto dessa teimosia aqui? 
De vez em quando, um sorriso no rosto cura nossa alma. É bom se acomodar num cantinho, longe das placas, das regras invisíveis e das visíveis também. De vez em quando... De vez em quando deve ser só questão de tempo pra parar de pensar em tanta coisa ao mesmo tempo. O tempo até pode dar conta. O pensar é que as vezes não sabe se encaixar nele.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Des/construção

  Tudo bem que ainda não acostumei com a ideia de que passei recentemente por natal, reveillon, férias. É que não to sentindo aquele gosto de ciclo novo que costumava sentir depois desse intervalo em que eu fazia cá meus planinhos. Estranho, não me vejo mais em ciclos! Parece que, de repetidos erros, consegui extrair algo sensato sobre isso e só agora notei. Ah vai, que saco fazer planos de vida nova, abrindo e fechando esses tais ciclos (e que poder é esse de controlá-los mesmo?). Não, isso de nada me acrescenta. Programações só funcionam bem pra canal de televisão que desempenha bem o papel de prolongar um domingo ocioso. Programar o viver não tem nada de funcional. E depois de tanta "segunda-feira mudo isso" e "esse ano vou fazer assim", me bateu uma fadiga até de planejar o que vou fazer pra comer no almoço de hoje. 
  Não tem que prever. Não tem que exigir da vida cumprir com as previsões malucas que você faz! A gente pode ser tanto um tanto de tudo, viver tanto o indefinível, e é só no caminhar que a gente permite isso. O novo de verdade, aliás, vem quando a gente se permite levar, mudar, acrescentar. Até porque é sem porquê esse lance querer antecipar os sentidos e buscar respostas imediatas, e depois acabar alcançando só frustrações. A ideia que tenho pra agora é construir, independente do que o relógio tem pra me dizer. Se for de encerrar algum tipo de ciclo ou cair em um outro, que eu o perceba quando estiver já vívido em mim.

"Como é que a gente pode ser tanta coisa indefinível
tanta coisa diferente
Sem saber que a beleza de tudo
é a certeza de nada
E que o talvez torne a vida um pouco mais atraente. "

(Uma delicada forma de calor - Lobão)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Doce lar

Tem pessoas que são casas. Elas te deixam ser tão você que você nem percebe o quão a vontade está pra falar de alma das suas besteiras, do seu modo de enxergar o mundo lá fora... A porta da casa não fica trancada sempre, você é livre para passear, se relacionar com o tal mundo e quando quiser pode voltar, abrir a janela pro ar fresco circular e estar no seu conforto novamente. Quando for preciso da segurança do lar, pode fechar a porta e a janela e ficar bem ali no seu cantinho com sua casa. Essa questão de afinidade não se explica nem se cria, ela nasce sem nem notar. As pessoas podem ser como um lar umas pra outras e fazerem bem aos corações pedindo em troca sintonia e só, o que não exige esforço algum. Sintonia flui. Estar em sintonia já é estar em casa. E mesmo que você não tenha um bom conceito de casa, no concreto, entenda como um lar o seu peito quando está acalentado. E como todo lar, precisamos cuidá-lo, resolver problema de encanação quando surgir, limpar as sujeiras... Ficar atento ao mal que outros ambientes podem lhe causar e não deixar isso interferir em casa! Cuidar da casa, cuidar do peito, é cuidar de nós mesmos também.