Ela passou dias em busca dos alimentos que lhe fortaleciam e nada mais.
Vez ou outra trocava suas roupas velhas, afinal de contas estava crescendo aos pouquinhos, eram cascas que não lhe serviam mais. Mas não se engane, ela entendia sim que crescer por dentro ainda seria de importância maior que crescer apenas de tamanho.
Era feia, não ligava nem um pouco pra isso. Iria ser linda logo mais!
De cabeça baixa, andava se rastejando e nunca olhava para o céu. Alias, ver as cores do céu era seu sonho, e sonhar era só o que ela podia fazer.
Ela sabia que um dia teria todas aquelas cores para ela, acreditava e por isso teria.
Você deve se perguntar por que ela não corria atrás do sonho, porque não se levantava e olhava pra cima logo de uma vez. A resposta é simples e sábia: havia um momento certo.
Ela continuava. Alimentava-se, mudava as roupas quando via que era preciso e, de cabeça baixa, acreditava nas cores.
Um dia ela sentiu que deveria se guardar, a vida lá fora já não fazia sentido e uma mudança estava por acontecer.
Sua paciência e fé, apesar das circunstâncias, valeriam a pena?
Ela chegou a fraquejar sim, é normal que todos tenham um instante assim. Contudo ela não permitiu que isso chegasse a dominar seus sentidos.
Procurou um lugar seguro.
Sozinha, presa num espaço bastante apertado, mais apertado que suas roupas quando precisavam ser trocadas, ela permaneceu por um longo período.
Não se sabe ao certo o que aconteceu lá dentro, só que ela estava escondida por que era preciso ter um momento dela.
Por que ela tinha de se isolar daquele modo? Pra mudar, talvez? Nem ela sabia, mas sentia.
Lá ela teve sua coragem posta à prova.
Conseguiria sobreviver tendo mudanças acontecendo tão intensamente?
Ela acreditava o bastante para sobriver.
Toda transformação costuma ser dolorosa e devagar, ela estava passando por isso e só tinha que esperar, esperar e esperar...
O dia chegou.
Aquilo que prendia a pequenina corajosa começou a ceder. Ela descobriu que era a hora da luta para se livrar daquela que seria a sua última casca. Força, garota, FORÇA!
Ela foi forte e finalmente saiu daquele aperto.
Liberdade! Essa foi a primeira sensação. Depois, cores. O sonho foi realizado.
Seu corpo agora era leve, ereto e até colorido. Ela já podia olhar para o céu e até mais, podia voar nele! Ela nem imaginava que poderia voar um dia, mas criou asas para isso. Sua espera junto com o poder de acreditar trouxe mais que seu sonho.
O mundo agora era todo dela.
E ninguém pode dizer que ela não foi em busca do sonho. Ela esperou, mas sua espera foi o melhor já que ela tinha consciência de que não podia atropelar o tempo. Lembra do velho ditado "a pressa é inimiga da perfeição"? Pois bem, ela fez o que lhe caberia no tempo certo. Quando teve que mudar, ela mudou.
Dali em diante ela só teria uma média de três meses de vida. Mas isso não a preocupava. Ela saiu pelo mundo voando e aproveitando cada dia. Agarrou cada possibilidade de descobrir uma nova cor até o fim da sua vida.
Fique certo de que ela jamais teria conhecido a imensidão azul se não tivesse acreditado, primeiro em si e depois no sonho. Se nós tivermos essa força, poderemos alcançar o que vai além do que esperamos, como foi com ela que ganhou asas para ter as cores que queria ver.
Assim como a lagarta, nós vivemos por metamórfoses. Acreditemos.
Quando borboleta, lembre-se do casulo e das cascas deixadas para trás, e viva!
Viva cada dia por menor que possa parecer seu tempo nele. O tempo é amigo.
Sejamos borboletas!