Para ele, a menina de cabelos cor do sol (sol nascendo, quase todo nascido) era um segredo. Ele era olhar, o olhar do sol sob os cabelos dela, que conhecia todos os segredos.
Aqueles olhos emitiam tanta luz, que a menina não conseguia fixar os seus aos dele sem que sentisse um frio na barriga por entender tanto do que não precisara ser dito (um vocabulário inteiro de olhar). E talvez, por ela desviar seu rosto, é que a luz refletia em seu cabelo cobertor de timidez, dando-lhe cores.
A menina tinha medo. Ele, tão convicto de suas ideias, sentia medo do medo dela. Como poderia amedrontar-se com o que não conhecia? Ele não sabia que, na verdade, o medo era o frio na barriga que ele causava nela. Agora sabe. Ora, ele causa o seu próprio medo então? Sim, mas é por culpa da sintonia que faz um sentir o mesmo que outro até quando não se sabe o que se sente.
Falando em sintonia, aquela onda eletromagnética entre sol e cabelos, nada mais era do que um fruto daquilo que os dois não sabiam justificar, ou preferiam não querer saber. Aliás, eles sentiam, logo, qualquer justificativa se fazia desnecessária.
Sintonizar, admirar e sentir formava um conjunto perfeito para tudo estar bem se não fosse um único contratempo: o pôr-do-sol. O dia estava perto de acabar e então o sol tinha que partir, levando embora a luz, o olhar e a cor. Ela sabia que ele não queria ir, ele sabia que por mais ela pedisse para que ele fosse não era o que ela queria também. Porém, para que chegasse um novo dia, ele tinha de ir.
O sol se despedindo em direção oeste parecia tão triste. Mas, acredite, há beleza também na partida. O belo era saber que no dia seguinte ele voltaria com o mesmo brilho e iluminando a mesma cor de cabelo. A cor do sol ao amanhecer será sempre mágica, dia após dia, e mesmo se houver uma frequência diferente, existirá magia.
Então o que há de errado na beleza do pôr-do-sol se a luz sempre voltará ao amanhecer? É que a noite tem sido longa. A menina e o olhar de sol estão separados pela escuridão da noite perversa. Os dois têm pensado muito na saudade.
Hoje, a menina quer contar o segredo, mesmo imaginando que ele já saiba. Ela quer dizer que acredita muito no amanhecer e que a luz dele está com ela até mesmo nessa noite em que vivem, porque a lua faz lembrar o sol, a sintonia e o tempo.
Haverá o tempo em que nem a noite conseguirá impedir o eletromagnetismo dos dois.